Colchão compacto, aparelho portátil de monitoramento e espaço para cochilo são exemplos
Cerca de 80% da população relata ter algum problema na hora de dormir no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira do Sono. De olho nesse público, empresas investem em produtos e serviços para a hora do repouso.
É um mercado lucrativo. Nos Estados Unidos, a chamada indústria do sono movimenta entre US$ 30 bilhões e US$ 40 bilhões anuais e cresce a mais de 8% ao ano, segundo a consultoria McKinsey.
De acordo com estudo da empresa, os segmentos mais promissores são os de medicamentos, de treinamentos para mudança de rotina pré-sono e de móveis para o quarto.
No Brasil, a produção de colchões deve crescer 5% ante 2017, com 35,2 milhões de unidades neste ano, apontam dados do Iemi (Instituto de Estudos e Marketing Industrial).
A Zissou investiu em colchões compactos, entregues em uma caixa que facilita a logística e reduz o frete e cresce cerca de 15% ao mês.
O sócio Ilan Vasserman, 32, conta que a ideia surgiu em uma viagem aos EUA. Com outros dois sócios, ele decidiu adaptar um modelo semelhante e trazê-lo para o Brasil.
Foi preciso captar R$ 2 milhões para estruturar o primeiro ano de operação, que começou em junho de 2017.
“Fizemos estudos para desenvolver o produto e vimos que ele não podia esquentar na superfície e, na hora que um dos usuários se mexe, quem está do outro lado não pode sentir esse movimento”, afirma. O item é produzido em uma fábrica nos EUA.
Por preços que variam de R$ 2.990 a R$ 5.690, o comprador recebe a mercadoria em uma caixa compacta de 1,15 metro de altura e 40 cm de largura, seja qual for o tamanho do colchão, do solteiro ao king size, sem prejuízo na qualidade do produto, segundo os envolvidos no negócio.
Desde que entrou em operação, a empresa faturou cerca de R$ 1,5 milhão. “Agora captamos R$ 5 milhões com investidores para crescer mais”, explica Vasserman.
Além de investimentos robustos, há regulações específicas para o segmento de saúde do sono, alerta Ariadne Mecate, consultora do Sebrae-SP.
O cuidado deve ser redobrado no caso de quem produz medicamentos, mesmo fitoterápicos, ou equipamentos que ajudam a amenizar o ronco do cliente.
“É preciso checar quais são os trâmites legais, autorizações dos órgãos reguladores, e pensar em como viabilizar tudo, levando em consideração os custos e os prazos para desenvolver os produtos e estruturar o negócio”, diz.
A Hi Technologies, empresa de tecnologia médica sediada no Paraná, precisou levar essas questões em conta quando criou um equipamento portátil de polissonografia, exame de monitoramento do sono que usa apenas um sensor no dedo do paciente.
O usuário retira o objeto no consultório, faz o exame em casa e o médico recebe o relatório por um aplicativo.
“A ideia é simplificar o exame tradicional, no qual é preciso fixar vários fios no peito e na cabeça do paciente”, explica o presidente da empresa, Marcus Figueredo, 34. A empresa investe de 60% a 65% do seu orçamento em pesquisa.
Também há quem invista em vender uma soneca durante o dia para impulsionar a produtividade.
A Cochilo, da empresária Camila Jankavski, 29, oferece cabines com luz regulável, sons relaxantes, travesseiro e cobertor em duas unidades em São Paulo, no centro e no Itaim Bibi (zona oeste).
A ideia surgiu quando o pai de Camila se queixava de não ter lugar para descansar alguns minutos durante o dia.
Agora, a empresa aposta nas cabines em empresas como a farmacêutica Medley e as aceleradoras de startups Cubo e Oxigênio, que pertencem ao Itaú e à Porto Seguro.
Desde a fundação, há seis anos, a Cochilo quis mirar o mercado corporativo, até então sem muito sucesso.
“Agora percebemos maior interesse das empresas, que veem como o sono pode ajudar a elevar a produtividade e a qualidade de vida das pessoas ali”, diz Camila, que entra em contato com as empresas.
Com faturamento anual de cerca de R$ 150 mil, ela prevê crescimento com a expansão de sua área de atuação.
Para Ariadne, ainda há espaços inexplorados no mercado do sono. “Eu, por exemplo, acabei me tornar mãe, e quem tem recém-nascidos nunca consegue dormir bem. Talvez exista um nicho aí”, afirma.
RAIO-X DO MERCADO
Insônia e ronco, ou apneia, são os problemas mais comuns de quem tem dificuldade para dormir bem.
Quem sofre de apneia tem paradas respiratórias curtas, de cerca de dez segundos, ao roncar
As principais frentes de negócio para quem quer investir em produtos para dormir melhor são as de melhorias para o quarto, mudanças de rotina e medicamentos.
Entre os espaços que podem ser explorados pelos empreendedores na hora de proporcionar mais conforto ao ambiente estão umidificadores de ar, controladores de som, iluminação e temperatura e mobília para o quarto.
No subsetor de qualidade de vida, produtos de banho e cuidados pessoais, que ajudam a relaxar, travesseiros e colchões especiais, medicamentos homeopáticos e treinamentos são os mais promissores.
Quem tem interesse em investir em tecnologia pode criar aplicativos para monitoramento do sono, que mostram por quanto tempo o usuário dormiu profundamente, e para polissonografia, cujo resultado é usado pelos médicos para identificar distúrbios que podem impactar a saúde.
Medicamentos que ajudam a descansar melhor, vendidos apenas após indicação de um médico, geram mais de US$ 1 bilhão por ano em receita nos EUA.
Há cerca de 2.800 clínicas encarregadas de mapear a qualidade do repouso nos EUA, que movimentam mais de US$ 7 bilhões por ano. A expectativa é que cheguem a faturrar US$ 10 bilhões em 2020.
Já os aparelhos que monitoram e minimizam a apneia do sono geram mais de US$ 4 bilhões anuais nos EUA.
22% da população mundial sofre de insônia, incapacidade de iniciar ou manter o sono.
35% dos paulistanos são insones.
35% dos brasileiros roncam enquanto dormem; o problema atinge três vezes mais os homens do que as mulheres até a meia-idade.