Mamãe na pandemia: dormir bem faz toda a diferença

O equilíbrio da rotina de sono é o ingrediente essencial para manter a mãe e o bebê saudáveis

 

Por Amanda Jús

 

Mamãe de quarentena

 

Como sabemos, dormir bem é a base de sustentação do pilar do bem estar, que engloba também uma alimentação saudável e a prática de exercícios físicos. Mas quando falamos em gravidez, um período de mudanças constantes no corpo e na mente de uma mulher, diversos fatores aparecem para interferir no sono, que como nunca é extremamente importante para uma gestação saudável. 

 

Das flutuações hormonais que surgem já no início da gravidez, ao crescimento do feto que torna a missão de achar uma posição confortável para dormir bastante complicada, até finalmente os cuidados com o recém nascido, que exigem despertares noturnos frequentes durante o período pós parto, nos perguntamos: como e quando dorme a mulher grávida? 

 

Claro que frente a todas essas questões, somente uma mulher, que tenha passado por tal metamorfose, é capaz de esclarecer nossas dúvidas. Para isso convidamos a bióloga e mamãe do Ravi, Dayane Carvalho, para uma entrevista bastante construtiva com a Zissou. 

 

Sabendo que o assunto era sono, o pequeno Ravi que participou o tempo todo da chamada de vídeo, entrou em cena preparadíssimo, dormindo gostoso nos braços da mamãe. Ele que com apenas 2 meses de idade ilustra em sua inocência algo que mesmo alguns de nós, adultos, não damos tanta prioridade: dormir bem é fundamental e o sono, portanto, é sagrado para um desenvolvimento saudável. 

 

Sorrindo enquanto dorme ele rouba a cena, mas a pergunta precisa ser feita. Questionada sobre alterações em sua rotina de sono, da gravidez ao pós-parto, Dayane nos conta que sim, seu sono mudou muito. 

 

 

“Eu sempre fui de dormir muito. Eu dormia fácil 10 horas por noite. Sempre fui muito dorminhoca e o sono sempre foi fundamental pra mim. No começo da gravidez, que foi o período em que eu sentia mais sono, eu dormia quase o dia e a noite inteiros. Era muito engraçado porque logo no comecinho da gravidez eu tirei férias, então eu acordava, tomava café da manhã e tirava um cochilo, almoçava e outro cochilo, depois do café da tarde tirava mais um cochilo e a noite eu ainda tinha muito sono. Eu dormia demais no começo e depois isso foi se tranquilizando.”

 

Já no final da gravidez, com a barriga mais pesada, Dayane recorda que mesmo cansada, dormir já não era mais tão fácil como antes.

 

“Em algumas noites cheguei a ter inclusive um pouco de insônia. Às vezes até mesmo por conta da ansiedade, de querer saber como tudo ia ser, se daria tudo certo. Então tive um pouco de insônia e isso fazia com que eu levantasse no outro dia destruída.”

 

E as mudanças, claro,  continuaram a acontecer.

 

“Depois que ele nasceu, nossa, aí mudou tudo completamente! Você com sono ou não, não pode dormir. Então foi bem difícil esse primeiro mês. Até que você se adapta e ele também se adapta ao ritmo da casa, nossa, foi bem complicado. Eu lembro a primeira vez que ele dormiu umas quatro horas seguidas. Eu acordei quando ele quis mamar, olhei o relógio e eram umas quatro da manhã. Juro que eu celebrei muito que tinha dormido direto quatro horas! Para quem dormia dez horas por noite…”

 

Se todas essas mudanças não fossem suficientes, a pandemia veio como um desafio extra para o sono da maior parte das pessoas e em meio a sua gestação, Dayane conta que confrontou uma série de impactos emocionais, como a ansiedade e a preocupação com o desconhecido.

 

“No início da pandemia eu estava no comecinho da gravidez e para mim foi o período mais preocupante. Eu fiquei muito ansiosa, sem saber o que ia ser, como ia ser e com muito medo de sair de casa. Nos primeiros meses eu não saia mesmo pra nada, nada. Nem eu, nem meu marido, porque eu tinha medo de que se ele saísse poderia trazer o vírus pra mim. Então eram minhas irmãs que deixavam as compras aqui em casa, ficamos muito paranóicos mesmo.”

 

Dayane conta que levou algum tempo, mas conforme os meses foram passando a única alternativa foi respirar fundo e se tranquilizar. O casal continuou tomando todos os cuidados, mas sem deixar que o medo, principalmente da falta de informação, os paralisasse. 

 

Com relação ao sono, a nova mamãe é bem franca: “como eu disse sempre fui muito boa de dormir. Dizer que atrapalhou o sono, não atrapalhou não. Tive sim muita ansiedade, mas nada que chegou a afetar meu sono. Tirar meu sono é muito difícil.”

 

Mas Dayane também reconhece que foi privilegiada e lembra que o mais importante é não se cobrar muito. Reconhecer que estava passando por um momento turbulento e de muitas incertezas a ajudou a aceitar seus sentimentos e manter a calma.

 

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Aproveitamos para entrar em outro tópico que tira o sono de muitas mamães: a opinião alheia. 

 

Torna-se, mais e mais, de comum senso que não devemos dizer pra uma mãe o que ela deve ou não fazer durante a grávidez e mesmo como cuidar do seu filho, mas muitas pessoas ainda não conseguem se segurar. Perguntamos a Dayane se ela havia sido confrontada com a famosa contestação do “dorme agora, porque você nunca mais vai dormir bem” e entre risadas ela confirmou:

 

“Nossa, isso a gente sempre escuta, né? Dorme agora porque depois você não vai dormir mais. Como se desse pra ir acumulando o sono pra gente usar depois. Seria uma maravilha se desse para fazer isso, mas infelizmente não dá. Se desse eu estaria com um estoque cheio!”

 

No caso dela, como teve sua gestação em meio a pandemia, conta que praticamente ninguém chegou a vê-la barriguda.  

 

“Então aquela coisa que todo mundo tem de que barriga de grávida é pública, que as pessoas já chegam pondo a mão eu realmente não passei por isso. A barriga ficou de quarentena”, brinca. 

 

O pequeno, que puxou a mamãe e durante toda a conversa manteve-se em um sono tranquilo, lançou uma espiadela como se soubesse que era o tópico principal do assunto. Aproveitando o momento fofura entramos ainda mais a fundo na questão da dependência do bebê com a mãe, uma fase que dura os dois primeiros anos de vida da criança e que, dentre outros fatores, tem o ritmo de sono normalmente regulado pela dupla mãe-bebê. 

 

 

Sobre essa sincronia dos padrões de sono Dayane foi rápida em responder:


“Quando ele nasceu realmente houve um período em que eu estava com sono e não conseguia dormir, mas ele é um bebê tranquilo e se adaptou rápido a uma rotina. Nas noites mais quentes ele segue um reloginho e acorda de 3 em 3 horas para mamar, enquanto nos dias mais frios ele chega a dormir quatro, às vezes até cinco horas direto, acordando apenas uma vez durante a noite.”

 

Ao mesmo tempo em que celebra os padrões de sono do filho, Dayane lembra que nem toda criança é igual e que é normal quando essa sincronia leva um pouco mais de tempo para acontecer. 

 

“As pessoas tendem também a dizer para aproveitarmos enquanto o bebê dorme para dormir também, como se essa fosse a dica chave. Mas é impossível, seria uma maravilha, mas enquanto ele dorme tem outras mil tarefas diárias para a gente cuidar. No meu caso, ele dorme muito, então eu consigo sim descansar bem, mas essa não é a regra. O mais importante é a mamãe não se cobrar, porque cada caso é realmente um caso.”

 

Lembrando das individualidades de cada um, seja das mamães ou dos bebês, Dayane encerra a entrevista com o aprendizado que considera mais valioso:

 

“Eu falo que esse começo, depois que eu tive ele, desconstruiu todas as minhas ideias a respeito da maternidade. Acho que você deve conversar muito com outras mulheres que já tiveram filhos, porque sempre nos sentimos sozinhas. Achamos que as coisas estão acontecendo só com a gente. Temos que lembrar que é tudo novo e não deixa de ser um indivíduo estranho ali com você. Leva tempo para você assimilar todas as novidades e a questão hormonal também te afeta. Eu acho fundamental ter uma conversa franca com outras mulheres que também já passaram ou estão passando por isso. Ter alguém para te dizer que as coisas vão melhorar, que tudo o que você está sentindo é válido, é natural, faz toda a diferença. Você vai chorar todos os dias, mas vai passar. Se você precisar de ajuda, peça ajuda. E se você sentir que nas primeiras semanas seu tempo é só para o seu filho, está tudo bem. O resto espera.”